quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aspectos Neuropsicológicos e Cognitivos das Dislexias de Desenvolvimento (Parte I)


O estudo dos problemas de leitura é bastante antigo e existem algumas perspectivas teóricas para descrever e explicar os déficits na aprendizagem da leitura em crianças. Usaremos como base na condução do tema a Neuropsicologia infantil, que enfatiza a relação entre as funções cognitivas e as estruturas cerebrais.

O processo de leitura competente envolve fluência e automatismo para reconhecer as palavras e compreender a material lido. O reconhecimento das palavras em um sistema de escrita alfabético pode ocorrer por meio de um processo visual, ou seja, rota lexical de leitura ou por meio de um processo de conversão grafema-fonema, que permitira uma pronuncia precisa das palavras regulares. Na rota lexical as palavras familiares são armazenadas em um léxico de entrada visual, que permite um acesso direto ao significado. No leitor competente, as duas rotas estão disponíveis, porém a rota lexical tem papel central na competência da leitura.

Na perspectiva neuropsicológica as dificuldades de aprendizagem, são entendidas como um conjunto de desordens da aprendizagem escolar que surgem como conseqüência de uma insuficiência de um ou mais sistemas cerebrais. Um pressuposto da abordagem neuropsicológica é o conceito de modularidade. Este propõe que o sistema cognitivo possui vários módulos de processamento cognitivo, um dano em um modulo não afeta diretamente o funcionamento dos demais. Os casos em que alguns processos de leitura estão preservados, como por exemplo, a leitura de palavras familiares e outros como a leitura de não-palavras e pseudo-palavras estão prejudicados enfatizam a modularidade do processamento da informação correspondente a leitura.

Segundo a DSM-IV-TR, o transtorno da leitura consiste em rendimento em leitura inferior ao esperado para a idade, inteligência e escolaridade. As definições de Dislexia estabelecem critérios de comparação entre o nível de leitura e o QI, ressaltando assim a importância do exame neuropsicológico nesse diagnóstico. Outra questão a ser ressaltada é que para o diagnóstico de Dislexia deve se excluir déficit sensorial, meio social muito desfavorável e danos neurológicos. O principal indicador dos déficits da aprendizagem da leitura é a dificuldade em decodificar e analisar fonemas dentro de uma palavra, consciência fonológica.

A estimativa das taxas de prevalência dos distúrbios de leitura na população norte-americana é de 20% e a incidência de dislexia na população geral é estimada em cerca de 10 a 15%. O tipo mais comum é o “Disléxico fonológico” que é caracterizado por uma incapacidade de decodificação fonológica, claramente observada em tarefas de leitura que envolva pseudopalavras e não-palavras. O outro tipo é o “Disléxico de Superfície” que é caracterizado por uma acentuada dificuldade na leitura de palavras irregulares (rota Lexical). Existem também disléxicos mistos, apresentando simultaneamente distúrbios de decodificação fonológica e de processamento ortográfico.

Referência:

Salles J., Parente M., Machado S., Interações. Vol. IX. n°17. p. 109-132. jan-jun 2004
Salgado C., Capellini S. Programa de remediação fonológica em escolares com dislexia
do desenvolvimento. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 jan-mar;20(1).

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto. O grupo aqui da UFRGS de Porto Alegre se dedica ao estudo da neuropsico em geral e, no momento, busca viabilizar instrumentos para avaliação neuropsicologica de crianças. André Luiz Moraes (decomoraes@gmail.com)

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