sábado, 27 de junho de 2009

Aspectos Neuropsicológicos e Biológicos das Dislexias de Desenvolvimento (Parte II)


O interesse da neurologia pelos problemas de leitura iniciou-se em 1890. A partir dessa data advirão vários estudos em busca dos marcadores biológicos da dislexia. Esses estudos são em grande parte de natureza experimental, feitos com pequenas amostras o que torna os seus achados de difícil generalização.

Estudos realizados com células cerebrais de disléxicos postmortem encontraram anomalias de células no córtex cerebral da região silviana esquerda (lobo temporal). Em outro estudo constataram falta da esperada assimetria, no planun temporale, região do hemisfério esquerdo maior que do direito. Esses estudos supõem que o cérebro dos disléxicos tenha sofrido durante a vida intrauterina, alguma agressão de tipo química, hormonal ou imunológica.

A análise de Eletroencefalogramas de disléxicos sugere um problema de maturação cerebral nessas crianças, a desconexão natural dos córtices sensoriais primários, um dos fatores importantes de desenvolvimento cerebral, poderia estar falha nessas crianças.

Em um estudo no qual foi avaliado o fluxo sanguíneo cerebral de disléxicos, por meio de tomografia por emissão de pósitrons (PET), encontrou-se um padrão alterado de ativação no córtex temporal-médio posterior e no córtex parietal inferior, predominantemente no hemisfério esquerdo, durante a realização de tarefas de leitura. Utilizando-se a técnica de ressonância magnética funcional, foram avaliadas crianças japonesas disléxicas. Encontraram alteração na ativação do giro temporal medial e um processamento incomum de ativação bilateral do lobo occiptal e do gira frontal inferior, que poderia indicar diferenças nas funções hemisféricas a fim de compensar as dificuldades de leitura.

Quanto aos fatores hereditários e genéticos, alguns estudos apontam para o possível lócus dos distúrbios de leitura no cromossomo 6. Em estudos com gêmeos, mono e dizigóticos, de 6 e 7 anos encontrou-se uma hereditariedade estimada em 0,60 nas crianças de 6 e 7 anos.

Devemos considerar que a maioria dos estudos citados acima utilizarão técnicas de imagens funcionais do cérebro. Considerando que o funcionamento cerebral depende também da ativação do ambiente, as anomalias apontadas podem ser influenciadas por fatores ambientais. Sendo assim, podem ser remediáveis ou alteradas por meio de intervenções terapêuticas.
Referência:

Salles J., Parente M., Machado S., Interações. Vol. IX. n°17. p. 109-132. jan-jun 2004
Salgado C., Capellini S. Programa de remediação fonológica em escolares com dislexiado desenvolvimento. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 jan-mar;20(1).

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