sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade


O TDAH é um transtorno neurobiológico, de origem genética que tem início na infância persistindo por toda a vida. Caracteriza-se por três grupos de alterações: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade. Os pacientes com TDAH podem apresentar dificuldades sociais, acadêmicas e familiares quando não diagnosticados e tratados corretamente.

O diagnostico de TDAH deve ser feito por um profissional especializado, pois este será capaz de distinguir entre as diferentes causas que podem ocasionar sintomas como os do TDAH. Cabe ressaltar que não existe nenhum exame capaz de realizar esse diagnóstico. Sendo assim este é feito através da historia do paciente, da observação clínica e com o auxilio de testes especializados.

A desatenção pode se manifestar de diversas formas. Falta de concentração, falha na interpretação de textos, erros por trocas ou omissões de informação, falha para manter o foco em um determinado assunto, por exemplo, em uma aula, todos esses exemplos podem ser justificados por uma falha na atenção. A hiperatividade é o aumento da atividade psicomotora, normalmente as crianças são descritas como aquela que não para um minuto, levanta-se a toda hora, revira-se o tempo todo, bate os pés, mexe as mãos e etc. Cabe ressaltar que inúmeras condições podem causar desatenção e hiperatividade em níveis significativos tal como outros transtornos psiquiátricos, doenças físicas, medicações e outros.

As manifestações do TDAH sempre têm início na infância, como se trata de um transtorno de desenvolvimento não é possível adquiri-lo na adolescência ou na idade adulta. Alguns pais relatam já observarem uma agitação psicomotora e dificuldades para adormecer nas crianças desde o berço. Até algumas décadas atrás a ciência acreditava que as manifestações clínicas desse transtorno desapareciam espontaneamente com o avançar da idade. Entretanto estudos recentes vêm demonstrando que as características do TDAH permanecem na adolescência e chegam à idade adulta, variando de intensidade de pessoas para pessoa. Não existe um agente causador do TDAH, porém sabes-se que o fator hereditário tem grande importância nesse transtorno. Frequentemente ao pesquisarmos a família de um portador encontraremos outros membros com o mesmo transtorno.

Como mencionado anteriormente o TDAH é um transtorno crônico, embora não exista uma cura os tratamentos farmacológicos vêm mostrando excelentes resultados no alivio e na manutenção dos sintomas. O medicamento mais utilizado para o controle dos sintomas é o metilfenidato, além desses algumas substancias com propriedades antidepressivas são utilizadas, porém com menor efeito terapêutico. Ao contrario do que muitas pessoas imaginam, o metilfenidato é um medicamento seguro e vem sendo utilizado há muitos anos. Entretanto todo medicamento é capaz de provocar reações adversas, sendo assim este e outros medicamentos só devem ser utilizados mediante a orientação e acompanhamento médico.

Em um número significativo de casos o tratamento farmacológico quando realizado por tempo suficiente alcança níveis satisfatórios de controle dos sintomas. Entretanto faz parte do tratamento a conscientização do portador e de seus familiares sobre o transtorno, pois com a aprendizagem técnicas comportamentais e em muitas vezes com a utilização de recursos psicoterápico após algum tempo pode se reavaliar a necessidade de se manter a medicação.

Referências:
Rohde L.A. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Jornal de pediatria- Vol. 80, n°2(supl), 2004

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Importância da Analise Qualitativa na Avaliação Neuropsicológica da Criança



A interpretação dos resultados na avaliação neuropsicológica infantil é um dos seus aspectos de grande importância. Toda avaliação deve levar em conta aspectos socioeconômicos, historia clínica, o estado atual da criança, humor, motivação e outros fatores. A interpretação dos escores obtidos em testes de forma isolada fornece pouca informação acerca do funcionamento do paciente. Sendo assim faz-se importante verificar como o paciente se comporta frente ao examinador, como reage a uma determinada tarefa e como modula suas emoções frente à avaliação. Devemos entender o porquê de não conseguir executar algumas tarefas. No caso de pacientes com lesões neurológicas, esses distúrbios podem produzir diferentes tipos de efeitos no comportamento do indivíduo que não são aferidos por testes.

No caso da avaliação infantil devemos ressaltar que fatores afetivos e emocionais interferem significativamente no desempenho cognitivo da criança. Dessa forma faz-se necessário analisar o contexto no qual a criança se desenvolve e possíveis estressores.

Alguns dados qualitativos podem ser obtidos através da observação do paciente durante a execução dos testes, tais como: a qualidade da interação que a criança estabelece com o examinador, se estabelece diálogo espontâneo, se faz contato ocular de forma adequada, se consegue inibir comportamentos não apropriados, se tem humor exaltado ou apático e outros. Todos esses dados tem extrema relevância ao se ponderar uma hipótese diagnóstica.

Um aspecto importante do ponto de vista qualitativo na avaliação infantil é que podem ocorrer mudanças de desempenho ao longo do tempo sem correlação direta com estados patológicos ou intervenções terapêuticas. O cérebro infantil está em constante desenvolvimento influenciado por fatores ambientais e sociais que exercem importante papel no desenvolvimento neuropsicológico.

Concluímos que a avaliação neuropsicológica não é apenas a aplicação de testes e sim a interpretação cuidadosa dos seu resultados. Somando a análise da situação atual do sujeito e o contexto em que vive podemos entender seu funcionamento de forma contextualizada a fim de obtermos melhores intervenções, estabelecermos um prognóstico e um perfil de funcionamento cognitivo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Transtornos da aprendizagem e a necessidade de avaliação neuropsicológica


O transtorno da aprendizagem é um distúrbio neurobiológico no qual o indivíduo acometido apresenta dificuldades significativas em leitura, aritmética e/ou na escrita não justificadas pela sua capacidade cognitiva global. Essas dificuldades provêm de um funcionamento cerebral atípico, os indivíduos processam e adquirem informações de forma diferente daquela esperada para crianças ou adultos que podem aprender sem maiores dificuldades. Esse transtorno pode se manifestar na vida acadêmica como dificuldades em compreensão de textos, cálculos, raciocínio lógico, soletração, ortografia e outros.


Existem varias formas de funcionamento atípico do cérebro que podem causar um transtorno da aprendizagem. Pesquisas mostram que no caso da dislexia, há um funcionamento atípico de áreas cerebrais envolvidas no processamento fonológico, na nomeação rápida e em sistemas visuais. No caso da discalculia, um TA que afeta as habilidades de calculo e o raciocínio lógico, pesquisas recentes usando neuroimagem constatam que há um funcionamento atípico de áreas responsáveis pelo processamento lingüístico.


Transtornos da aprendizagem podem estar associados a varias outras patologias, tais como: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, Transtorno opositivo desafiador, distúrbios neurológicos e outros. Ter um transtorno da aprendizagem pode fazer com que um indivíduo tenha sintomas depressivos e ansiosos clinicamente significativos derivados do seu baixo rendimento escolar e de dificuldades de socialização principalmente no âmbito acadêmico. Entretanto cabe ressaltar que esses transtornos não são predominantemente emocionais e nem causados por distúrbios afetivos.


Quando se suspeita da presença de um transtorno da aprendizagem, a avaliação neuropsicológica é de extrema importância. Através do exame das funções cognitivas envolvidas no TA tais como: Linguagem, Habilidades viso-perceptivas, memória, velocidade de processamento e raciocínio lógico. Podemos estabelecer com mais precisão o diagnóstico. Outra informação de extrema relevância que pode ser obtida através da avaliação neuropsicológica é a capacidade cognitiva global, segundo os critérios diagnósticos deve-se excluir a presença de déficit cognitivo.

O transtorno da aprendizagem é crônico, e pode trazer dificuldades na vida social, acadêmica e profissional. Sendo assim uma identificação precoce do quadro, com uma avaliação neuropsicológica pode ser relevante para a orientação de condutas terapêuticas adequadas e dessa forma proporcionar um melhor prognóstico.
Referências:
C.H. Silver et al. Learning disabilities: The need for neuropsychological evaluation. Archives of clinical neuropsychology, 23, 2008, p. 217-219
Kirby, J. R., Parrila, R. K., & Pfeiffer, S. L. (2003). Naming speed and phonological awareness as predictors of reading development. Journal of Educational Psychology, 95, 453–464.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Origem dos Testes de Inteligência



O movimento que deu origem aos testes de inteligência se iniciou com o trabalho do psicólogo francês Alfred Binet (1857- 1911). Seus estudos foram motivados por uma lei do governo francês que exigia o ingresso de todas as crianças nas escolas. Com essa nova situação os professores se depararam com uma enorme quantidade de diferenças pessoais. Algumas crianças pareciam ao olhar dos professores incapazes de aprender e outras eram muito mais lentas do que a maioria. Para minimizar as tendenciosidades do julgamento, Binet e outros foram encarregados de desenvolver um instrumento objetivo que pudesse identificar as crianças propensas a terem dificuldades acadêmicas.

Para Binet todas as crianças seguiam o mesmo curso de desenvolvimento, porém algumas mais rápido do que outras. Crianças denominadas por ele “estúpidas” estariam simplesmente atrasadas em seu desenvolvimento, assim em seus testes essas crianças deveriam funcionar como uma criança mais jovem típica. Embasado nessa teoria, foi elaborada uma medida que veio a ser denominada Idade Mental. Uma criança normal teria sua idade cronológica igual a sua idade mental. Para essa mensuração Binet desenvolveu uma série de questões que poderiam prever o rendimento escolar.

Binet e sua equipe não fizeram suposições sobre a razão pela qual uma criança em particular poderia ser mais lenta ou precoce. Ao invés disso adotaram uma explicação ambiental para o fenômeno. Segundo o mesmo as crianças atrasadas deveriam receber “fisioterapia mental”, ou seja, deveriam ser estimuladas a desenvolver suas habilidades.

Em 1911, Lewis Terman tentou usar o teste de Binet, entretanto descobriu que as normas para a idade mental desenvolvidas na frança não se aplicavam as crianças americanas. Terman modificou o instrumento e estendeu o seu limite de idade para avaliação. Este revisão recebeu o nome até hoje conservado de Standford-Binet.

A partir desses testes o alemão William Stern criou o Quociente de Inteligência, QI. O QI de Stern nada mais era do que a idade mental dividida pela idade cronológica multiplicada por 100. Dessa forma crianças normais, com idades cronológicas e mentais iguais tinham o QI igual a 100.

A maioria dos testes atuais para inteligência não utiliza mais o QI em sua formula original. Entretanto os testes atuais definem os escores de forma que 100 é a média, sendo que dois terços das pessoas estão situadas entre 85 e 115. É notório que mesmo não existindo um quociente de inteligência, o termo QI é amplamente utilizado com uma forma de expressão abreviada para teste de inteligência.

Referências

Myers D. Psicologia. Holland, Michigan. LTC.,2006. p. 308-310
Primi R. Inteligência: Avanços nos modelos teóricos e nos instrumento de medida. Avaliação Psicológica, 2003,1,pp. 66-77

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Inteligência


O termo inteligência é amplamente utilizado em vários contextos, porém seus significados são variáveis. Podemos utilizar o termo inteligência para nos referirmos à capacidade mental natural de um individuo, um nível de desempenho intelectual atingível, uma qualidade, entre outros. Inteligência é um conceito socialmente construído, no qual culturas diferentes julgam inteligente qualquer fator que facilite o sucesso. Em nossa cultura esse termo representa uma performance superior em tarefas cognitivas. Segundo alguns especialistas a inteligência não é um constructo único, e sim a habilidade de aprender a partir de uma experiência, resolver problemas e usar o conhecimento para se adaptar a uma nova situação. Sendo assim devemos tomar muito cuidado ao nos referimos ao QI de alguém como um traço real.

Desde a metade dos anos 80, especialistas procuram estender as definições e de inteligência. Howard Gardner em 1988 introduziu o conceito de Inteligências Múltiplas. Em suas observações ele constatou que uma lesão em determinada área cerebral pode diminuir um tipo de competência sem afetar outros. A partir de estudos com pessoas dotadas de competências excepcionais, Gardner afirmou que não temos uma, mas sim múltiplas inteligências. Além das aptidões matemáticas e verbais, temos aptidões para a execução musical, para analise espacial, para o controle motor e para relações interpessoais.

Em 1998 Robert Sternberg concorde das idéias de Gardner, distinguiu três aspectos da inteligência: Inteligência Analítica, que seria a capacidade para resolução de problemas acadêmicos; Inteligência Criativa, que seria a capacidade adaptativa a novas situações e a Inteligência Prática que é necessária para as tarefas quotidianas. Os testes de inteligência tradicionalmente conhecidos avaliam inteligência analítica, que prediz bem o desempenho escolar de um individuo, porém não tem o mesmo valor para a predição de sucesso vocacional. Nas próximas postagens entenderemos porque os testes de inteligência estão historicamente ligados a mensurar habilidades acadêmicas.
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Referências:

Myers D. Psicologia. Holland, Michigan. LTC.,2006. p. 308-310
Primi R. Inteligência: Avanços nos modelos teóricos e nos instrumento de medida. Avaliação Psicológica, 2003,1,pp. 66-77